QUEM SÃO ELAS

GISLANA VALE

Gislana Vale vem de uma família de pessoas com deficiência visual. O pai era cego, uma tia, seu irmão mais velho dos homens e uma sobrinha também. Os médicos atribuíram os casos de deficiência na família ao fato de que seu avô era tio de sua avó, o que causa problemas de consanguinidade, que é uma aproximação muito grande do código genético.

 Desde pequena teve dificuldades visuais, por ter Retinose Pigmentar. nunca pode correr ou brincar a noite pois nunca enxergou no escuro e com o tempo as limitações foram apenas aumentando. Ainda na adolescência aprendeu, por conta própria, a desenvolver sua mobilidade.
Aos 20 anos, deixou de ler em papel e de identificar degraus, mudanças de nível no piso, perdeu a visão central e muito da visão lateral.

Durante muito tempo negou sua cegueira pelo medo de ser confrontada pelo preconceito e de perder sua autonomia até que passou a conviver com a realidade de outras pessoas com deficiência e a achar seu jeito de lidar com suas limitações e superá-las, hoje em dia, tem uma memória auditiva ampla e se localiza bem nos lugares onde passa sempre. 

Gislana conta que já viveu situações difíceis e outras engraçadas, como quando se mudou e uma amiga lhe deu carona e a deixou no prédio errado daí como tinha acabado de mudar não sabia voltar para casa, tentava se localizar e  afastava-se mais de casa, então já aflita ligou para sua casa e seu filho lhe achou. Outra vez calçou uma sandália do mesmo modelo só que um creme e outra preta. Agora é difícil se enganar. Sabe se maquiar, separar dinheiro de valor diferente e viajar sozinha. Considera-se o que se pode chamar de cega assumida.

Hoje ela reside em Fortaleza, Ceará, com seu filho Matheus e seu companheiro J.R em e trabalha como consultora técnica em Educação, é professora Mestre em Avaliação de Políticas Públicas, está sempre engajada em causas que lutam pela Inclusão e Respeito à Diversidade.

Gosta de ler romances históricos e biografias, adora música Samba, MPB e nordestina. Ama dançar, viajar, fazer amigos e estudar. Gosta muito do mar que acalma seu espírito, nunca conseguiu viver longe dele e de sua força.

Considera como suas maiores conquistas ser mãe, ter um amor, um trabalho de que gosta as lutas pelo que acredita ter amigos e saber que dessas pessoas vem à força para conviver e superar suas limitações e dores cotidianas. Seus maiores medos são: perder a crença, sua capacidade de se indignar com as injustiças sociais e achar que não podemos mudar o mundo.

Os sonhos são de natureza individual e coletiva. Quer muito ir a Portugal e conhecer várias cidades, dentre elas Fátima, pois é católica e devota de Nossa Senhora de Fátima. Já coletivamente, deseja construir um mundo inclusivo, pautado no desenho universal de respeito às diversidades e diferenças.

Conheceu o grupo quando da divulgação do primeiro Encontro e logo se identificou com suas lutas e objetivos colocados nas falas de suas articuladoras. Pensa que o movimento social organizado as empodera e organiza suas falas e participações de modo coletivo. "Somos fortes se estamos juntas e unidas no mesmo sonho e desejo", assegura.

No momento se encontra pesquisando o acesso à Educação e ao Trabalho das mulheres com deficiência e participa do MBMC Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão.

Para ela, a realidade das mulheres cegas e com baixa visão é sempre árdua e se coloca no dia-a-dia para poderem estudar, conquistar sua autonomia e auto-sustento, vencer as situações que as fragilizam e enfrentar o machismo e as violências física, simbólica, intelectual e outras que as impedem de acreditar que podem ir além dos obstáculos impostos à sua deficiência e escrever sua própria história de conquista, felicidade e êxito, já que, como toda mulher com deficiência, precisa salvar três leoas por dia.

 KATIA REGINA MATTOS


Carioca, 44 anos, solteira e sem filhos, essa é Katia Regina Mattos. Katina tem deficiência visual, sua deficiência visual é decorrente de um deslocamento de retina, agravado em função de ter a Síndrome de Marfan. A Síndrome é uma doença do tecido conjuntivo descrita por um pediatra francês, Antoine Bernard-Jean Marfan, em 1896. Com este primeiro relato e outros subsequentes, ficou estabelecido que tratava de uma doença Genética.

As principais manifestações clínicas da doença concentram-se em três sistemas principais: o esquelético, caracterizado por estatura elevada, escoliose, braços e mãos alongadas e deformidade torácica; o cardíaco, caracterizado por prolapso de válvula mitral e dilatação da aorta; e o ocular, caracterizado por miopia e luxação do cristalino. Essa possibilidade de atingir órgãos tão diferentes denomina-se pleiotropia.

Em virtude desta doença Kátia é alta, magra e nasceu com o cristalino do olho esquerdo luxado. Por isso, sempre teve um grau altíssimo de miopia no olho direito. O descolamento de sua retina ocorreu em 2006. Fez a cirurgia para colocar a mesma, utilizando óleo de silicone no olho direito. Atualmente, a retina continua colada, porém a partir de 2010, sua visão começou a piorar.

Primeiro sentiu dificuldades ao sair à noite e depois também durante o dia. Uma vez ao entrar na estação do Metrô do bairro onde mora, o segurança percebeu sua dificuldade e foi a ajudar. Ele a perguntou por que não usava bengala e respondeu que seu problema era recente.

Esse episódio a fez pensar sobre o que ele falou e decidiu comprar uma bengala. Só meses depois, quando já estava fazendo reabilitação, foi que descobriu que a bengala, precisava ser adequada a altura do portador. Para sua sorte, a que comprou era. Ainda tem um pequeno resíduo de visão, mas quando está com crise de rinite, a visão piora ainda mais.

Bacharel em ARQUIVOLOGIA pela UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, hoje não exerce mais a profissão de Arquivista, pois está aposentada e resolveu complementar sua renda vendendo roupa íntima. Um de seus maiores receios, quando começou a perder a visão, era nunca mais poder compartilhar com as pessoas todo o CONHECIMENTO, que havia acumulado por tantos anos. "Eu sabia que existia programas para computadores, mas não sabia dos programas para celulares e tantas outras coisas. Muito menos eu sabia como conseguir estes programas", comenta.

Sem a ajuda de ninguém, começou a ligar para todas as instituições que fossem voltadas para atender pessoas com deficiência, até que chegou a um órgão da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, voltado para atendimento de pessoas com deficiência e começou a fazer reabilitação.

Durante um passeio, conheceu o presidente e fundador da SOCIEDADE PRÓ LIVRO ESPÍRITA EM BRAILE e sua esposa, onde a convidaram a conhecer a mesma. Foi um dia até lá e passou a conviver com outras pessoas com deficiência e pode aprender cada vez mais coisas. Para ela, uma das suas maiores conquistas, foi conseguir ENXERGAR, apesar de todas as inúmeras dificuldades, as coisas boas que a deficiência a proporcionou.

Dentre estas inúmeras coisas, a criação do seu BLOG que tem como principal objetivo compartilhar com outras pessoas suas emoções, vivências e tentar fazer com que as pessoas reflitam sobre os assuntos por ela abordados e principalmente reflitam sobre si mesmas e sobre suas emoções. Um dia espera conseguir realizar outro sonho: ESCREVER UM LIVRO.

Katia gosta da quietude de casa e de cozinhar, mas também adora cantar, dançar, ir ao teatro, shows e ler. Para ela, estas coisas culturais são tão importantes como o ar que respira. Apesar de nunca ter estudado no Instituto Bejamin Constant, um amigo que é ex-aluno do instituto, pediu para que ela fosse adicionada a lista de e-mails dos ex-alunos do IBC. E por meio de um dos e-mails que recebia diariamente, que ficou sabendo do grupo MULHERES CEGAS e o contato da KELLY ARAÚJO. Assim passado algum tempo, enviou uma mensagem via Whatsapp para a mesma pedindo para ser adicionada ao grupo.

GEANE LIMA 


Aos 18 anos, a estudante de administração, Geane Lima, pode dizer que o nome da cidade em que reside, um pequeno município localizado na região norte do estado do Piauí, representa a sua trajetória de vida.  Uma vez que, desde que nasceu a jovem vivência uma grande Batalha, nome da cidade.

A jovem já nasceu com baixa visão, por causa de uma doença chamada glaucoma congênito que afeta e destrói os órgãos oculares. Com apenas três meses de vida teve que se submeter a uma cirurgia como forma de evitar que a doença se agravasse, e aos três anos novamente foi submetida a um processo cirúrgico, tentando reverter seu quadro. Porém, após aos 11 anos sentiu os primeiros sinais de que sua visão pioraria. A menina sentia dores nos olhos que lacrimavam demais. Daí em diante, foi perdendo rapidamente o pouco de visão que ainda tinha.

No começo, foi muito difícil não conseguir ver as pessoas, a jovem comenta que era um desconforto para sair de casa, pois, a claridade a incomodava. Ao perceber a perda definitiva da visão, Geane passou a aprender o Braille, uma vez que, antes estudava com letras ampliadas o que a prejudicava muito, tendo em vista que forçava os olhos para conseguir ler.

A adolescência foi uma fase complicada para Geane. Por ser bem tímida e por não saber lidar com a deficiência, a jovem sentia dificuldades em se relacionar com as pessoas. Ela conta que se achava o patinho feio das histórias. Pois, segundo ela, poucos eram aqueles que se aproximavam, e apesar de seu desejo de sair com amigos, interagir e se relacionar, não tinha oportunidade.

Ir para a escola era um dificuldade, pois se incomodava com a indiferença das pessoas e sentia que todos a olhavam torto, com coitadismo. Nem assim ela não desistiu. Todo o dia ia à escola, mesmo tendo que aturar dores e desconfortos calada.

Por volta de seus 14 anos, um amigo a falou da Associação de Cegos do Piauí (ACEP), uma instituição da capital voltada somente para pessoas com deficiência visual. Então foi até lá com sua mãe para conhecer e se associar. Surpreendeu-se ao ver que a realidade daquelas pessoas era muito diferente da realidade das pessoas com deficiência visual de sua cidade. Os membros da associação eram desenrolados, tinham autonomia e faziam uso das tecnologias como celulares e computadores acessíveis.

Hoje ela cursa o primeiro período do curso de administração. Sendo a primeira pessoa com deficiência visual no Instituto Federal de Ensino Superior do Piauí campos Piripiri. Por isso, passa por alguns desafios ma instituição, já que os profissionais de lá ainda são didaticamente despreparados para atendê-la.

Atualmente Geane faz parte do fã clube de uma banda de pop rock cristã católica chamada Rosa de Saron. Ela conta que sempre curtiu a banda, mas só depois de conhecer a ACEP que passou a se inteirar mais com as pessoas e as tecnologias do momento é que foi conhecendo e gostando cada vez mais da banda. A jovem afirma que Rosas de Saron passou a ser seu som preferido por ter músicas com letras que ela ama e por, principalmente, ter feito parte dos seus momentos abençoados de amor com Deus.

Por falar em Deus, a garota participa de movimentos da igreja, gosta de ouvir musica cantar, ler e manter a palavra, por isso, prefere que façam o mesmo com ela. Tem como sonho de concluir o curso superior e conquistar autonomia. Considera-se uma pessoa amiga, um pouco desorganizada, porém, determinada, paciente, esforçada.

Para ela, a realidade das mulheres cegas e de baixa visão de sua cidade ainda é um pouco "atrasada", com mulheres vivendo no comodismo, sem interesse em ocupar seus espaços, contentando-se com a vida que a sociedade as impôs. Segundo Geane, lá não há oportunidades de ingressar no mercado de trabalho, pois as pessoas com deficiência são vistas como incapazes e sem potencial para tais atividades.

Em relação ao o grupo de mulheres cegas, a jovem conheceu a convite de uma amiga. Decidiu fazer parte porque através dele poderia conhecer outras mulheres cegas que assim como ela passam por dificuldades todos os dias, e onde poderiam compartilhar experiências e vivencias. No grupo, fez boas amizades e aprendeu muitas coisas, como por exemplo, a se maquiar. Uma prática que sempre quis ter e que agora faz parte de seu cotidiano.

Geane acredita que, através do movimento brasileiro de mulheres cegas e com baixa visão, realidades assim como a das mulheres de sua cidade podem ser mudadas no que tange o empoderamento e no gozo de seus direitos.

BEATRIZ SANTOS


Beatriz Santos, 22 anos, Nasceu Em São Luís do Maranhão, no dia 16 de Agosto. Só há sete anos, durante a gestação do seu irmão mais novo, sua mãe descobriu que seu problema, glaucoma congênito, se deu por rubeula durante a gravidez. Na maternidade os médicos afirmaram a sua mãe que aquela doença havia a trazido ao mundo totalmente cega, e isso foi tudo que souberam dizer.

Fez várias operações no Maranhão e em outros estados também, mas segundo eles nada além de colírios seria capaz de reduzir sua pressão intraocular, e a impressão de que seguia com os olhos o que a mostrassem que sua mãe tinha, era só a imaginação de uma mãe muito esperançosa.
Só quando começou a falar, pôde mostrar a eles que não era imaginação; que ela sempre foi baixa visão e não totalmente cega.

Mesmo com as dificuldades para encontrar escolas especializadas em alfabetização Braille no Maranhão, sua mãe nunca desistiu de a fazer estudar, e enquanto não conseguiu a alfabetizar em Braille, a ensinou a ler e escrever em tinta com o pouco de visão que tem.

Aos seis anos, quando conheceu o Braille e o Sorobã, já tinha sido alfabetizada em tinta; e aos oito, quando ingressou na escola regular para iniciar o ensino fundamental, já lia, escrevia e fazia as quatro operações; o que fez com que fosse chamada a sala da diretora algumas vezes; ela queria a convencer de que Bia era superdotada e não precisava fazer o primeiro ano. Bia recusava, e dizia ter certeza de que havia muita coisa para aprender ali.

Hoje é graduanda em Turismo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Conheceu o MBMC através de uma amiga, e a ideia de levar informação para as mulheres cegas que ainda não tem, foi o que a fez querer participar.

Na sua cidade, por exemplo, não se falava em alguma proposta voltada para a mulher cega, seja na área da educação, saúde, política ou da sociedade, até a chegada do movimento. A maioria das moças já se dá por vitoriosa se conseguir terminar o ensino médio; pelas dificuldades impostas pelas escolas, ou mesmo pela falta delas, e pela falta de incentivo da família, são poucas as que persistem e acreditam que podem chegar longe.
Acredita que seu maior desafio foi convencer sua mãe de que precisava andar só, sem magoá-la. Se desprender da superproteção é algo que deve ser sempre feito com muito cuidado e paciência. Você está acostumada com aquilo e mesmo que negue, se sente um pouco insegura nas primeiras experiências; sua família também está acostumada com aquilo e também se sente insegura, achando que algo de mau pode acontecer e nenhum deles estará lá para ajudar. O desafio de cuidar de uma casa ela infelizmente ainda não venceu. A independência foi sua maior conquista até hoje; e não sentir mais vergonha de usar uma bengala, por se tratar de um conflito interno, considera como sua maior superação.

"Sou muito otimista e sonhadora. Quero conhecer o máximo de lugares possíveis, mundo a fora, trabalhar diretamente com turismo quando formada e contribuir de alguma forma para a melhoria na acessibilidade de destinos turísticos. Cursar psicologia, ter uma casa só minha e um cão guia, mas se por um lado tenho esse espírito de independência correndo nas veias, por outro tenho medo de me separar da minha mãe, e também de não conseguir realizar nem metade dos meus sonhos", desabafa.

Beatriz conta que o Movimento trouxe a certeza de que ela não é fraca ou despreparada, que suas dificuldades são as mesmas ou até menores do que as de muitas moças e que todas são capazes de crescer na vida. Para ela, têm moças cegas por aí que ainda não sabem que existem oportunidades para elas, por isso, o MBMC é tão importante pra ela.

GISELE PACHECO

Cega, mãe, atleta e pedagoga, essas são apenas algumas das identidades que formam a mulher Gisele Pacheco.  Podemos dizer que tudo na vida de Gisele ocorreu de forma precoce. Nasceu prematura, com apenas cinco meses e meio, pesando 800 gramas, por isso precisou ficar na incubadora durante 90 dias, e como consequência teve sua retina ocular queimada, tornando-a cega total.
Já em seu primeiro ano de vida, foi inserida numa instituição de ensino especializado para pessoas com deficiência visual, local aonde apresentada àquela que viria ser uma das suas maiores paixões: a natação.
Com apenas um ano e meio começou a dar suas primeiras braçadas dentro da água, aos três anos foi alfabetizada em Braille, com sete, entrou para a escola regular com o apoio pedagógico da instituição especializada.
Infelizmente, a morte da mãe também foi um acontecimento precoce na vida de Gisele. Ela faleceu quando Gisele tinha apenas 15 anos. Por isso, nesse período a jovem precisou passar por um dos seus maiores desafios: alcançar a autonomia e independência. Não foi fácil, mas ela conseguiu conquistar a autonomia.
Já adulta, fez faculdade de pedagogia, atuou na área durante alguns anos trabalhando com a alfabetização Braille de jovens e adultos e inicialização a informática. Casou-se e com 29 anos teve Luiza, sua filha que hoje tem quatro anos.
O nascimento de Luiza deu origem a mais um grande desafio: a maternidade. Gisele conta que os primeiros meses foram os mais difíceis. Pois teve que aprender a dar os primeiros banhos, remédio e papinha. Atualmente, fica com Luiza durante a noite e usa esse tempo para brincar, conversar e, claro, cuidar. Apesar de toda evolução nessa área, Gisele ainda tem dificuldade de conseguir andar sozinha com a filha.
Muita coisa mudou na vida de Gisele durante os últimos anos, o estado civil é uma dela, hoje, a mulher está separada. Porém, entre tantas mudanças, algumas coisas permaneceram como: gostar do silencio de casa, de ler, de ficar com a família e o amor pela natação. Todos os dias ela vai à academia, faz seus treinos de natação, e figura entre os três melhores nadadores no ranking nacional de  três provas.
A realidade das mulheres com deficiência visual de sua cidade é que muitas estão fora do mercado de trabalho, sofrem resistências para serem inseridas e aquelas que ainda conseguem são as q tiveram mais oportunidades de terem um melhor estudo e conseguiram vagas no mercado público através de concursos.
Gisele conheceu o grupo, no Whatsapp, só para mulheres com deficiência visual através de um anúncio no Facebook. Após ser integrada, foi aos poucos interagindo com as outras meninas, até que percebeu a semelhança das dificuldades enfrentadas por elas, e isso a fortaleceu como mulher cega.
Por meio de conversas sobre essas dificuldades foram surgindo debates, novas ideias e a vontade de buscar soluções. A ideia de criar o Movimento surgiu por causa de um sonho da administradora do grupo: criar uma organização de apoio às mulheres que, como elas, sofriam muitas dificuldades, mas não possuíam um amparo legal.

Atual secretária do Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e de Baixão Visão, Gisele entende o Movimento como um divisor de águas que a transformou. Para ela, o MBMC é um caminho pra as mulheres com deficiência visual encontrarem apoio e respostas para seus desafios e questionamentos, com a possibilidade de desenvolver ações de fortalecimento e empoderamento para que consigam encarar as dificuldades de forma  mais simples e mostrando que são capazes.
otimista e sonhadora. Quero conhecer o máximo de lugares possíveis, mundo a fora, trabalhar diretamente com turismo quando formada e contribuir de alguma forma para a melhoria na acessibilidade de destinos turísticos. Cursar psicologia, ter uma casa só minha e um cão guia, mas se por um lado tenho esse espírito de independência correndo nas veias, por outro tenho medo de me separar da minha mãe, e também de não conseguir realizar nem metade dos meus sonhos", desabafa.

Beatriz conta que o Movimento trouxe a certeza de que ela não é fraca ou despreparada, que suas dificuldades são as mesmas ou até menores do que as de muitas moças e que todas são capazes de crescer na vida. Para ela, têm moças cegas por aí que ainda não sabem que existem oportunidades para elas, por isso, o MBMC é tão importante pra ela.

MARCIANE OLIVEIRA MENEZES 

Nascida no interior do maranhão, a jovem Marciane Oliveira Menezes, 27 anos, descobriu aos seis anos de idade um problema na visão, uma vez que, sentia muitas dificuldades para acompanhar o que a professora escrevia no quadro, ao contrário das outras crianças.
Ao perceberem seus problemas na visão, Marciane, apelida de Márcia pelos amigos, passou por consultas com vários médicos, porém, nenhum deles conseguiu descobrir qual era o problema que afetava sua visão. Somente aos 15 anos, durante uma viagem a Teresina, foi que encontrou um especialista em glaucoma. Ele então constatou e diagnosticou glaucoma congênito, num estágio avançado com maioria dos seus órgãos ocular afetados.
Ainda nesse período, aos 15 anos, foi identificada como pessoa com baixa visão, já que, conseguia ver os obstáculos e cores e andava só. Com 18 anos enxergava vultos e cores, mas precisava de ajuda para se locomover, pois se atrapalhava com os obstáculos e as luzes. Aos 22, perdeu sua visão quase que por completo, passando a enxergar somente vultos e cores quando bem próximos de seus olhos. Hoje ela é cega total e possuí autonomia plena.
Infelizmente, devido à falta de uma instituição de apoio para pessoas com deficiência visual em sua cidade Marciane não pode ser alfabetizada enquanto criança. Por isso, com 22 anos, sentiu a necessidade de mudar de cidade para estudar, superar todas as dificuldades e passar pelo desafio de recomeçar longe de sua família. Então se mudou para a capital do estado, São Luiz, onde, em duas semanas, conseguiu se alfabetizar em Braille na escola especializada para cegos do Maranhão.
Casada e vaidosa, Marciane diz gostar de tudo que a faz se sentir bem e bonita e no dia a dia aprecia cozinhar, fazer obras sociais e trabalhos voluntários. Ela também produz artesanatos como crochê, bordados, doces caseiros, além de estar se preparando para abrir o próprio negócio.
Em relação a principal dificuldade vivenciada pelas mulheres de sua cidade, Marciane destaca a ausência da educação formal. Segunda ela, muitas das mulheres de sua região só conseguem ser alfabetizadas na fase adulta, uma vez que, são oriundas de um núcleo familiar sem informação. Márcia também ressalta que a ausência dessas informações geram gravidez precoce, sendo assim, mais um empecilho para que elas possam se organizar para estudar.
Marciane teve acessoa ao grupo de mulheres cegas no whatsapp através de uma amiga. Inicialmente, aceitou para conhecer e fazer novas amizades e acabou por encontrar um espaço de mulheres com realidades semelhantes, onde podiam sentir-se a vontade para falar de tudo que tinham em comum.
Militante, Márcia integra o coletivo de mulheres com deficiência do Maranhão, sendo diretora do núcleo de mulheres com deficiência visual. Quanto ao Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão, decidiu participar porque acreditou na proposta, percebeu uma oportunidade de parceria e apoio entre pessoas lutando pelo mesmo ideal e fortalecendo umas as outras. Hoje ela entende o movimento como uma espécie de escada, onde as mulheres cegas e com baixa visão pode subir juntas para superar seus desafios e conquistar seus espaços.


MARIA DILMA ANDRADE

Conhecida por Dilma, a pedagoga Maria Dilma Andrade tem 51 anos, baiana, mas há 20 anos mora no Piauí. Casada, tem três filhos e um mestrado em educação pela Universidade Federal do Piauí. Em 2013, foi diagnosticada com retinose pigmentar, e de lá para cá vem perdendo gradativamente sua visão.

Hoje ela é pessoa com baixa visão, enxergando um pouco pela visão central. Dilma conta que ainda está aprendendo a lidar com suas limitações, mas que tem vontade de ajudar as pessoas, que assim como ela, receberam o diagnóstico tardiamente e precisam se adaptar à doença e a vida de pessoa com deficiência visual.

Atualmente é técnica em assuntos educacionais, trabalhando no núcleo de acessibilidade da UFPI; considera-se uma pessoa realizada enquanto mulher e profissional. Um de seus maiores sonhos é que seus filhos conquistem e se realizem como pessoas e realizem os sonhos deles. Também deseja conhecer vários lugares, países e culturas diferentes. No momento está se dedicando ao trabalho e a família.

Diferente dela, muitas mulheres com deficiência visual não conseguem um posto no mercado de trabalho por falta de oportunidades ou pela falta de qualificação, pois as empresas exigem qualidade, mas nem sempre estão dispostas a capacitar os profissionais que têm uma limitação. Conheceu o MBMC através de uma amiga que a convidou para o primeiro encontro do movimento em Teresina, e a partir daí passou a ver e sentir as situações das mulheres com deficiência visual, onde teve vários debates com temas importantes que a fizeram entender as reais necessidades em quanto à afirmação de políticas públicas e o empoderamento dessas mulheres. Desde então vem participando e colaborando com o movimento brasileiro de mulheres cegas e com baixa visão no seu estado.


FRANCISCA JOSEFA 

Francisca Josefa, também conhecida como Tchesca, tem 32 anos, natural de Simões, uma pequena cidade no estado do Piauí. Nasceu com deficiência visual total por causa de uma doença rara que a atingiu nos seus primeiros dias de vida.
Em uma consulta, quando tinha 13 anos, um médico, por falta de conhecimento do real problema de visão dela, falou para sua mãe que seu caso era curável. Por sua vez, dona Josefa, mãe de Francisca preocupada procurou umas amigas para desabafar. Amigas essas que eram freiras e que se compadecendo da história resolveram criar um projeto como forma de arrecadar dinheiro para o tratamento. E assim foi feito.
Enviaram o projeto para uma fundação em Londres, por intermédio de outra freira que morava em Belo Horizonte. O projeto foi aprovado, Tchesca e sua mãe viajaram para BH para. Chegando lá, o médico disse que era um caso muito raro, que a cura seria muito difícil, mas que poderia fazer um tratamento e para isso ela precisaria mudar-se para a capital mineira.
Mãe e filha voltaram para a cidade natal para refletir sobre a proposta do médico, e decidiram que não iriam morar em BH por falta de estrutura para tal mudança. Com isso, as mesmas freiras decidiram que Francisca teria que estudar. Entraram em contato com suas amigas que moravam na capital a fim de investigarem uma escola para pessoas com deficiência visual, e encontraram a associação de cegos do Piauí (ACEP). Após uma semana de seu retorno de Belo Horizonte Francisca foi para Teresina para estudar. Morou três meses com as freiras de lá e logo a arquidiocese de Teresina cedeu uma casa para ela e sua família, casa essa que moram até hoje, pois a ganharam.
Começou a estudar com quase 14 anos, e hoje é graduada em letras portuguesas pela Universidade Estadual do Piauí, fez especialização em Literatura, Estudos culturais e outras Linguagens. Atualmente é professora pelas secretarias estadual e municipal de educação, exercendo suas maiores conquistas profissional, que é de ter conseguido passar em dois concursos públicos na sua área.
Responsável, amiga, família, dedicada e animada. Ela é um exemplo de superação e cativa a todos que a rodeiam. Nos seus momentos sociais gosta de ir à igreja, de passear com amigos, de comer, de cantar e tocar violão. Também gosta de estudar, e sempre foca naquilo que almeja. Hoje ela leciona no centro de apoio pedagógico para deficientes visuais/PI, e está se preparando para alcançar mais um de seus sonhos, de passar no concurso federal.
A realidade das mulheres cegas de sua cidade não muito diferente de todas as outras, é árdua, onde todos os dias têm de enfrentarem muitas dificuldades por ter poucas estruturas acessíveis tanto no espaço arquitetônico como em materiais adaptados, assim dificultando o desenvolvimento prático das mulheres com deficiência visual e as impedindo de exercer suas capacidades. Espera que a cidade se desenvolva em acessibilidade na forma física, mas principalmente nas atitudes das pessoas, para que as pessoas com deficiência visual consigam conquistar seus espaços com êxito. Conheceu o grupo de mulheres cegas logo no comecinho quando a administradora, Janne Kelly, que é sua amiga, a adicionou ao grupo no Whatsapp. E hoje faz parte, como colaboradora, do movimento brasileiro de mulheres cegas e com baixa visão.

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